terça-feira, 17 de junho de 2014

Uma boa conversa com o nosso futuro

Em uma manhã simples, na única comunidade que existe no centro velho de SP, o Moinho, crianças entre 6 e 14 anos, desenhavam em cartolinas seus sonhos para depois serem estampados em camisetas.

Não eram bem sonhos como os que estamos acostumado a sonhar. A vida não é assim tão clara em relação ao que podem desejar. Sorvetes preencheram as camisetas pintadas. Da onde tiraram isso? Não sei. Uma criança começou a desejá-los e outras se contagiaram pelo estilo das bolas coloridas.

Em uma roda com 5 jovens meninos, entre 10 e 13 anos, questionados por que carregavam um colar no pescoço - “É um terço, mas não sei como rezar”. Então vamos aprender? E entre contas maiores e menores, conversamos sobre a sequência de orações necessárias para compor a proposta. Atentos, questionaram se aquele colar que a Santa usava na imagem fora da sala de aula também era um terço. Ao chegarmos perto da imagem de Nossa Senhora de Fátima, constatamos que sim, um terço três vezes presente - portanto, um rosário. “Pra que isso?” Porque ela promete que se rezarmos seremos ouvidos e nossos desejos atendidos”. “De verdade?”. A Santa promete que sim. Chegamos aos 3 segredos que ela contou aos pastorinhos. E entre as guerras anunciadas, adentramos o tema da 2° Grande Guerra. E a aula de história começou.

De um maluco que pregava que cor de pele mede a inteligência de pessoas ao massacre ocorrido nos percebemos contando e aprendendo com jovens famintos por um universo novo “Onde a gente aprende mais sobre isso?”. Talvez na escola. “Só que eu já não vou na escola faz 3 meses. Fui expulso”. Nossos jovens vivendo dias repletos de funk que dão sentido às suas vidas, talvez porque quem os escreveu conseguiu chegar aos seus corações. Enquanto isso, nossos diplomados endurecendo os seus.

E para fechar nossa manhã, chegamos à discussão sobre para que serve a escola? Talvez para nos ajudar a pensar sobre o que a gente quer ser nesta vida. “Eu quero ser veterinário”. “Eu jogador de futebol”. “Eu não sei”. Não há nada de que você goste muito? "Nada não. Não quero ser nada”. Empinar pipa é uma ideia? “É, pipa eu gosto”. Que tal você ser um grande fazedor de pipas e todas as crianças do bairro virem te procurar para comprar uma pipa que ninguém consegue fazer? “Pode ser. Gostei da ideia”.


A gente costuma ter sonhos que precisam sair do papel. Estas crianças precisam que seus sonhos saiam de seus corações, apertados e espremidos por tantos fatos incomuns. E se não dermos apoio à tempo, a vida simplesmente decide por eles.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Do que o seu coração está cheio?

Dizem que o verdadeiro sábio escreve pensamentos complexos utilizando-se de simples palavras. Mas, quem não tem aqueles dias em que palavras estranhas vêm à boca ou simplesmente cismam em aparecer em tudo que escrevemos? 

Elas compõem o nosso vocabulário mais íntimo, palavras que estão guardadas nas entranhas das nossas conexões neurológicas, cujo significado a gente aprendeu algum dia, sabe-se lá qual, sabe-se lá com quem mas que, por acaso, encontraram um espaço para habitar nossa disputada memória. Podem se tratar de palavras difíceis, desconhecidas ou até mesmo simples demais, o fato é que quando ditas na hora certa soam com tamanha sublimidade que dá até gosto de ouvir. 


Estranhas ou não, elas marcaram momentos de vida e fizeram história conosco, talvez, por isso também algumas sejam tão especiais. As difíceis? Se não forem ditas, para que existem? Mas não são as palavras difíceis que conquistam, mas as completas. E é inevitável deixá-las partir quando vêm à mente. 
Palavras, palavras, sejam elas quais forem, o importante é deixá-las fluir. Se nossa boca diz aquilo que o coração está cheio saibamos escolher bem aquilo que dirá um pouco do que somos!